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Sobre a Acessibilidade: quantas pessoas com necessidades especiais há em Portugal?

Os responsáveis pelos sites de comércio electrónico e os comerciais dos grandes portais passam bastante tempo a olhar para as estatísticas dos seus sites. Tentam ver quem são os seus visitantes, quais os produtos em que estão interessados, e como chegam a esses produtos.

É costume ouvir estes responsáveis dizer que não precisam de se preocupar com a acessibilidade porque não têm utilizadores com necessidades especiais (pessoas com algum tipo de deficiência) a usar o site, ou se têm, são poucos. Algumas das principais desculpas são porque é preciso mais desenvolvimento para criar/alterar o site, e dá mais trabalho... No entanto, é impossível saber se há ou não utilizadores com algum tipo de deficiência a usar o site. Nas estatísticas, um utilizador com necessidades especiais é contabilizado como sendo um utilizador igual aos outros.

Os dados que existem actualmente para contabilizar o número de pessoas com necessidades especiais em Portugal são escassos e que eu saiba ainda não foi feito nenhum estudo dedicado ao uso da web por estas pessoas.

Numa pesquisa rápida pelo site do Instituto Nacional de Estatística descobri um estudo sobre o Enquadramento familiar das pessoas com deficiência (baseado nos Censos de 2001) que contém alguns dados interessantes.

Em 12 de Março de 2001, o recenseamento da população apurou 636 059 pessoas com deficiência (6,1% da população residente total) distribuídas pelos seguintes tipos de deficiência:

  • Auditiva: 13,2%
  • Visual: 25,7%
  • Motora: 24,6%
  • Mental: 11,2%
  • Paralisia Cerebral: 2,4%
  • Outras: 23%

Podem parecer poucos (felizmente), mas não deixa de ser uma fatia importante da população que também deve ter acesso à informação, tal como todos os outros. Ao tornarmos um website mais acessível, estamos a facilitar a vida a estas pessoas, quer sejam deficiente visuais que usem um screen-reader, ou deficientes motores que usem outros dispositivos apontadores em vez do rato.

Aliás, é mais provável que estas pessoas usem mais a web no dia-a-dia do que o mundo físico. Imaginem fazer compras num hipermercado sem conseguir ver. É muito mais fácil (se o site for minimamente acessível) fazer as compras online do que andar a vaguear pelos corredores do hipermercado sem quaisquer pistas auditivas ou tácteis para saber que tipo de produtos estamos a comprar.

Criar um site acessível (ou transformar um site já existente) não é uma tarefa complicada. Não dá assim tanto mais trabalho do que o normal (talvez no início seja necessário investir algum tempo a investigar como é que se deve fazer o site, mas após algum tempo é muito mais fácil e directo).
E se estamos a tornar um site mais fácil de usar para pessoas com necessidades especiais, estamos também a torná-lo mais fácil de usar para todos os outros.


6 Comentários

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  1. Rogério Pereira

    Acho que a acessibilidade está além desses números citados. Se um usuário estiver com algum problema técnico ou mesmo tenha sofrido um acidente temporário, também faz parte de um grupo com necessidades especiais.

  2. Filipe Miguel Tavares

    Podem ser poucos se confinarmos ao que conhecemos sobre o nosso país.

    Mas como a audiência é tendencialmente global, se alargarmos a países lusófonos (principalmente Brasil e Angola), com idiomas similares (Espanha, América Latina) ou onde existam emigrantes (França, Canadá, América Latina, etc.), já poderão não ser assim tão poucos… e o “esforço de desenvolvimento” já poderá compensar comparativamente à inclusão que proporciona.

    My € 0,02

  3. Ricardo Duarte

    E se eu oferecer 6,1% de aumento nas vendas? Aí não é pouco.

    E não é só Comercio Eletrônico, pois é cada vez mais comum a decisão de um compra “física” ser influenciada pela experiência online.

  4. Ivo Gomes

    @Rogério: Concordo plenamente. Normalmente também costumo falar dos “deficientes tecnológicos” ou dos deficientes temporários, mas neste caso foi só para ter uma ideia dos números oficiais.

    @Ricardo: Sim, é por isso que se é mais fácil de usar para uns, teoricamente também será mais fácil de usar para todos os outros, criando uma melhor experiência online.

    @Filipe: Sim, se incluirmos todos esses, os números são bem capazes de aumentar bastante, provavelmente para mais do dobro ou triplo.

  5. Francisco Maria Cruz Nunes

    Acho que se pode ainda adicionar um dado importante à equação.

    As nações unidas prevem que no ano 2050 cerca de 40% da população da Europa terá mais de 60 anos.

    Com o aumento do número de idosos, aumenta o número de pessoas com dificuldades de visão e de audição entre outras…

    Como se isso não bastasse, este estrato será aquele que terá maior poder e disponibilidade económica. Não investir neste público é claramente uma falta de visão do ponto de vista económico.

  6. Jorge Gamito

    Muitas vezes a questão não se pode colocar só em termos de deficiência efectiva. Quantas vezes preferimos a rampa às escadas, mesmo que possamos subir os degraus de 3 em 3? Além disso, costumo dizer que deficientes somos todos, uns mais do que outros, a ponto de nuns se notar e noutros não. Ter um tipo com um tamanho razoável, ou permitir que se possa aumentar, não ajuda apenas quem vê mal. Também ajuda os que ainda tem uma visão boa a conservá-la mais tempo. E mais tarde ou mais cedo, todos vamos ficar com a mão a tremer (dificuldades com o rato), problemas de audição, visão, etc.

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